11 de março de 2014

Ela

Puxa... nenhum filme concorrente ao Oscar de 2014 mexeu tanto comigo quanto o "Ela" (Her, EUA 1013). E não estou desmerecendo os outros títulos, de maneira alguma, mas o longa do Spike Jonze me deixou tão perturbada (no bom sentido) que confesso que tive que ver mais de uma vez.

E nesse momento um milhão de razões pipocam na minha mente, para justificar eu ter gostado tanto da produção. Estou com dificuldades em alinhar as ideias. Ouso dizer que foi um dos filmes mais lindos, singelos, profundos e cativantes que vi nos últimos anos. Com certeza na lista (e prateleira) dos "mais mais".

Theodore Twombly (o impagável Joaquin Phoenix) é um sujeito emotivo que trabalha escrevendo cartas de amor para terceiros. O cara passou por um divórcio mas curte lá a solidão segura dele. Um belo dia compra um Sistema Operacional e se apaixona por ele. 

E não se trata de mais um filme que discute a relação homem e máquinas, os limites dessa nossa fissura pela tecnologia nem nada disso. O cerne dessa produção é a maneira como nós, seres humanos, nos relacionamos. Nossa carência pelo próximos, nossa idealização de parceiros perfeitos e belas histórias de amor. Tudo o que a gente sabe fazer (e muito bem) errado.

O sistema operacional, Samantha (Scarlett Johansson) não é apenas uma máquina programada. Estranhamente ela se desenvolve dia após dia e ganha características primordialmente humanas. Aos poucos ela aprende a conhecer Theodore e se apaixona por ele. Aos poucos ele percebe que tudo o que sempre sonhou em uma mulher está agora ali, na imagem de um dispositivo que cabe no bolso.

O cenário? O futuro. Mas nada de Jetsons. Na verdade não dá nem pra reconhecer o local mas é um tempo onde as pessoas terceirizam sentimentos, mandam outras escreverem suas cartas de amor, os vídeo games são assustadoramente reais (parte boa), não se usa canetas e por aí. Mas é curioso que não rola aquela visão de futuro que a gente herdou dos filmes de ação sabe. Mas é o futuro. E nesse futuro tão high tech seguimos com a necessidade gritante de nos conectarmos com outros da nossa espécie.

E perguntamos: qual a importância do corpo nas relações? Afinal Theodore se apaixonou pela voz e "presença" de Samantha. Isso é amor? Qual a nossa base para julgar o que é ou não real? A amiga de Theodore, Amy (Amy Adams) está passando por um divórcio e também se relaciona posteriormente com um SO. Em uma das muitas falas brilhantes do filme ela destaca que "o amor é uma forma de insanidade socialmente aceitável".

Saí com tantas perguntas do cinema que até hoje fico pensando em algumas sabia. O mais legal nisso tudo é que essa realidade não é assim tão absurda. Quanta gente a gente conhece pela internet hoje? Quanto esforço já empreendemos para sermos desejadíssimos no mundo digital!? Essa vida online que a gente cria, fala com o que somos offline?

Outra coisa bacana, já disse que não dá pra saber em que local a história se passa. Houve um cuidado em não identificar esse futuro. Por outro lado, as roupas dos personagens lembram umas peças setentistas. Engraçado. A melancolia que Joaquin transmite via Theodore causa empatia na hora. E não se trata de um cara deprê nem nada, impossível não se apaixonar por ele.

A gente se apaixona por livro, música, personagem, cheiro, gosto...pessoas. Como lidar com tudo isso? E aquele frio bom no estômago quando a conversa leva a gente pra outra esfera, quando há essa conexão que, uns dizem ser intelectual, outros clamam ser espiritual. E qual é? A Scarlett fez um puta trabalho encarnando a Samantha. Meu, é a voz dela e você se afeiçoa. 

Imagina a Scarlett, aquela baita mulher maravilhosa, sem o seu corpo! Ela deixaria de ser o que é? Dá meio que um nó na cabeça da gente. O roteiro é tão bem bolado e tão arrebatador que você sofre muito com os personagens. Se identifica com todos eles. Theodore apaixonado por um sistema, Amy que não sabe mais se amor existe mesmo, o chefe do Theodore que namora mas no fundo inveja a sintonia de Samantha e seu amigo e por aí vai.

Gostar é complicado. Amar então... nem me fala. Em momentos você fica na dúvida se os atores estão mesmo atuando ou resolveram lembrar de suas paixões e estão contando. Todo mundo que já se deixou morder por esse bichinho vai se identificar com o filme. Todo mundo.

A trilha sonora é um capítulo à parte, sob a responsabilidade dos meninos do Arcade Fire. Um dos momentos mais emocionantes do filme, quando Theodore realiza diversas atividades na companhia de Samantha, ao som de "The Moon Song" interpretada pelos protagonistas é de arrebatar. Essa, inclusive, concorreu ao careca de Melhor Canção Original, interpretada por Karen O. Música linda, linda, linda.

Vale se apaixonar pelo abstrato!? Pela versão que fazemos das pessoas? Pelos sonhos que depositamos nelas? Pelos planos que nós fizemos? Pelo que queremos ser? Amor existe ou trata-se de alguma reação química do nosso cérebro? Uma peça que esse danado prega na gente? Mais que isso, todas essas perguntas interessam? Mudam alguma coisa?

O Spike Jones acha que não. E eu concordo plenamente com ele

Beijo

)

4 comentários:

Giz disse...

Show Leila! Esse já tá na minha lista de filmes para assistir.

Giz disse...

Show Leila! Esse já tá na minha lista de filmes para assistir em breve.

Ana Pace disse...

uau! engraçado que a primeira vista esse filme não me empolgou. (não, eu não vi esse filme, ainda). mas suas indagações são tão parecidas com as minhas hoje que acho que esse filme poderá me ajudar a entender um pouco mais sobre a magia dos relacionamentos. bem batuta a sua análise! confesso que quero conversar contigo depois de ver o filme! ;)
e o arcade fire é tudibom! <3

Evy disse...

Vou procurar o filme para assistir!
Bela resenha!!!

Bjs