22 de fevereiro de 2012

Marty: um legítimo working-class hero

Com um enredo absolutamente simples, Marty (EUA, 1955) é um filme muito eficaz do ponto de vista dramático.


Contando a história de um açougueiro de meia-idade que não consegue encontrar uma garota com quem se relacionar, a obra dirigida pelo então estreante Delbert Mann não deixa de ser tematicamente ambiciosa ao evidenciar, em plena década de ouro da história recente dos Estados Unidos (quando surgem o Rock’n’Roll e seus “bad boys” James Dean e Marlon Brando, o selvagem), os medos e dúvidas de um ítaloamericano de coração mole e cabeça dura.


Nesse sentido, aspectos como o ambiente social em que o personagem-título está inserido (destaque para a crueza machista dos amigos suburbanos de Marty) e a relação invasiva/dependente entre ele e sua mãe italiana são essenciais para que percebamos os dilemas e as pressões a que Marty está diariamente exposto. Claro que nem tudo é roteiro e é preciso dizer que Enest Borgnine entrega a atuação de sua vida ao solitário Marty.


Essa cruel solidão é substituída por uma cruel incerteza quando Clara, uma adorável professora, surge em sua vida (em mais um sábado à noite no clube Stardust Dance Hall). Como não poderia deixar de ser, ela também se sente solitária, não muito bonita e perto de se considerar “definitivamente solteira”.


Pronto. Aí está a grande “trama” do filme: o garoto solitário encontra a garota solitária. Nenhuma morte dolorosa, nenhuma grande guerra atrapalhando a “lua-de-mel” parisiense.

Claro que ele terá de suportar uma grande resistência por parte da família dela e lidar com muito ciúme do lado de sua mãe e amigos, mas não há nada além disso, no bom estilo “a vida como ela é”.


De maneira astuta e sofisticada, o roteiro de Paddy Chayefsky parece entender que não é preciso criar conflitos outros. Não há drama maior do que contrariar todos que o cercam em nome de algo tão abstrato, e incerto, como o amor.


Ainda assim, é o que nos resta. E devemos muito a Marty por isso.


Nota do Cineopses 1: Em 1959, em Moscou, foi o primeiro filme estadunidense visto na União Soviética desde a Segunda Guerra Mundial
- Este é o remake de um filme de TV de 1953 do mesmo nome, com Rod Steiger no papel-título
- Com 90 minutos de duração, é o menor tempo de execução de qualquer filme a ganhar o Oscar de Melhor Filme
- O primeiro filme americano a ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes

- Em 1956, conquistou os Oscars de Melhor Ator (Ernest Borgnine), Direção, Melhor Filme, Roteiro e foi indicado aos de Ator Coadjuvante (Joe Mantell), Atriz Coadjuvante (Betsy Blair), Direção de Arte e Fotografia


Nota do Cineopses 2: Sim, até que enfim esse humilde blog foi agraciado com a presença dele, Daniel Consani! Jornalista, editor, escrivinhador, cinéfilo, fã de zumbis e outras coisinhas atípicas, ele tarda mas não falha! Curtiu? Conta pra ele: danielconsani@hotmail.com

Dani, o Cineopses agradece!! Volte sempre!


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