3 de maio de 2010

Apenas uma vez

Em um período recheado de estreias milionárias, efeitos fabulosos e imagens sensacionais, o texto é sobre uma produção irlandesa , discreta e encantadora. Não um elenco de peso, mega famoso, mas uma reunião de notinhas, uma escala perfeita que dita o enredo e arrebata quem assiste. Deleite para os olhos e, principalmente, para os ouvidos. A música é a protagonista.

"Apenas uma vez" (Once, Irlanda 2006), tem aquele ar desleixado, com cara de filmagem caseira. Não tem roteiro estabelecido, tem personagens centrais sem nome, romance sem beijo e ainda assim, uma história de amor belíssima.

Peralá, antes de fazer cara feia e dizer "lá vem ela com essa meninice" saca essa. A história se passa em Dubln, na Irlanda. Um músico de rua conhece uma imigrante pianista e com ela inicia uma colaboração musical. Em todo tempo é notável o interesse de ambos um pelo outro, mas nada acontece. A medida em que canções vão sendo criadas, vai nascendo um sentimento tímido, receoso, medroso e inocente.

A música é o laço. Imagine essa cena: Uma loja de instrumentos, ela ao piano e ele com seu violão surrado. Aos poucos as notas vão surgindo,uma letra simples e direta, a descoberta um do outro, da canção, do talento, da sensibilidade. É de arrepiar.

O diretor e roteirista John Carney cria um ambiente real, as pessoas no filme são reais, os problemas são reais, os defeitos também. Não há quadros mirabolantes, roteiros complexos, falas extensas. Há o cotidiano, a simplicidade, a beleza da descoberta. Não se espante se, ao ver o longa tiver a impressão de que as cenas foram criadas de acordo com a gravação. Foi exatamente o que aconteceu, nada planejado.

A única coisa certa desde o princípio era a canção. O diretor chamou o músico irlandês Glen Hansard, lider do The Frames, para compor a trilha, que por sua vez convidou a pianista tcheca Marketa Irglova para uma parceria. O resultado: Oscar de melhor canção original para "falling slowly" (2008) e os dois músicos como o casal protagonista. Ah, o diretor foi contrabaixista no The Frames até 1993.

As canções são executas com paixão, com alma mesmo, os dois estão entregues,algumas sequências parecem verdadeiros videoclipes, pois a música é que comanda as ações dos personagens. Essa harmonia exemplifica perfeitamemnte a sensação que temos de estarmos vivendo a vida dos dois, lado a lado com o casal, com a câmera sempre acompanhando de perto os dois, em um tom documental.

Apenas uma vez não é uma produção que usa a música como coadjuvante mas sim como tema.A música não é inserida após a ação e sim o contrário. O romance não é físico, está no processo criatvo dos dois, na evolução musical, na cumplicidade e há poucas coisas tão românticas quanto a cumplicidade.

É uma bela metáfora de início de relacionamento. Uma nota tímida aqui, um aprendendo com o outro ali, os dois buscando os mesmos acordes. O futuro pode ser um álbum ou apenas uma canção isolada, seja ela perfeita ou fora do tom. As chances e os riscos do relacionamento rumarem por um caminho ou o outro são infinitos. As chances dessa junção de notas resultar e uma bela melodia são as mesmas do temido acidente musical.

Adaptações, notas sustenidas, acordes em bemol serão necessários. A vida pode ser uma música e parte do processo de amadurecimento é sentir a melodia e escrever sua própria partitura.

beijos

Um comentário:

Robson disse...

A música do filme é muito boa.
O filme é um bom retrato do dia a dia de um artista. É um filme sensível e faz a gente pensar mais nas relações interpessoais.