Se a premissa está longe de ser uma pérola em termos
de originalidade no cinema, o peso de Creed ser o sétimo filme da série
iniciada em 1976 não ajuda. Afinal, pode-se dizer que o público já viu de tudo
nesses 40 anos de franquia. Desde a clássica jornada do herói no primeiro filme
até a crítica sutil à empáfia e ostentação de alguns esportistas da atualidade
no sexto, intitulado Rocky Balboa (2006). Passando por um leve flerte com a
ficção científica personificada pelo anabolizado Ivan Drago (Dolph Lundgreen)
de Rocky IV (1985).
Mas, o dilema de trazer algo novo para quem assiste
foi resolvido por Coogler – que também roteiriza o filme – de uma maneira bem
acertada. Se o plot inicial é claramente um remake do primeiro, o desenrolar
dos fatos o posicionam – e muito bem – como uma sequência direta do longa de
2006, com um Balboa ainda mais velho e combalido.
Ao longo do filme, acompanhamos a história do rapaz.
Desde o dia que Mary Anne, a viúva de Creed (Phylicia Rashad), o adota em um
reformatório, passando por suas bem-sucedidas lutas ilegais no México e pelo
momento no qual ele decide largar o emprego em uma instituição financeira para
se dedicar ao boxe em tempo integral.
Até chegarmos à Filadélfia, onde ele se muda para um
pequeno apartamento na cidade e pede a um relutante Rocky que o treine. Daí por
diante, a película entrega ao público os clichês esperados: o treinamento, a
vida no subúrbio e o interesse amoroso do rapaz na musicista Bianca (vivida por
Tessa Thompson).
Dentro
e fora do ringue
Ainda no campo dos acontecimentos esperados pela plateia,
claro que Creed também tem seus
vilões. O invejoso treinador Pete Sporino, que faz de tudo para promover a luta
entre Adonis e seu filho Leo para atingir Rocky; e o boxeador falido e de
caráter duvidoso Ricky Conlain (Tony Bellew), com quem o jovem Adonis protagoniza
o embate final.
Embora tudo seja moldado e conduzido para o que vai
acontecer dentro do ringue nos dois grandes combates, é o que acontece fora
dele que ganha o espectador. Em Creed,
todo mundo está lutando contra alguma coisa. Seja Adonis para não ser lembrado
apenas como o filho ilegítimo de um dos maiores pugilistas da História, Bianca
contra a doença degenerativa que está consumindo sua audição e o próprio
Balboa, que procura se convencer o tempo todo de que ainda há o que fazer nesse
mundo, mesmo que sua esposa e amigos já tenham partido.
Contudo, não pense que o filme deixa o boxe de lado. O
esporte não é negligenciado nem por um minuto e pode-se dizer seguramente que
supera os anteriores ao retratar esse universo de uma maneira realista e em
certos momentos visceral. Assim é Creed – Nascido para Lutar, uma produção que
entrega sequências de luta ambiciosas, coreografadas com perfeição e ainda surpreende
pelo drama bem conduzido, marcado por ótimas atuações.
Texto habilidosamente escrito pelo nosso fiel colunista Carlos Bazela :)