Sim senhores, vi antes e confesso que passei a noite pensando em um jeito de dizer o que achei sem escrever muito. Se consegui???? Acho que não, mas prometo tentar. Vem comigo.
Segunda, 19 de abril , sessão especial no Shopping Higienópolis. Sala lotada, óculos 3D em mãos e ... Alice no País de Tim Burton... ops, quer dizer, Alice nos País das Maravilhas (Alice in Wonderland, 2010).
A experiência? Sensacional! Vamos aos fatos!
O longa de Tim Burton tem todos os ingredientes que fazem de Tim Burton O Tim Burton! A primeira sensação é que estamos presenciando uma retrospectiva de sua carreira. O mundo criado para Alice se assemelha ao ambiente de Jack , de Beetle Juice e da Noiva Cadáver. O cenário são todos os Tim Burtons que conhecemos em um só. Os personagens já não carregam aquela inocência retratada pela Disney em 1951, o clima underground é evidente e a história seria um novo capítulo na vida de Alice.
Treze anos depois, Alice (Mia Wasikowska) volta ao País das Maravilhas. Não é mais aquela menininha da primeira vez, é uma moça que não se encaixa nos padrões impostos pela sociedade e está sendo obrigada a se casar. Chegando aos 20 anos, vê sua vida sendo decidida pela mãe e irmã. No fundo, Alice ainda carrega aquela curiosidade que à levou ao buraco pela primeira vez. É um espírito livre, que não poderia ser preso em hipótese alguma. No dia de seu noivado, o Coelho Branco volta à superfície para procurar e levar Alice ao mundo subterrâneo. A passagem é a mesma: buracos, poções que encolhem e esticam, portinhas e seres incríveis. A partir daí, vemos o dedinho de Burton.
Só por ser 3D a viagem ao País das Maravilhas já é fantástica, quase real. As cores fortes mas opacas e os personagens que carregam uma aura de melancolia nos levam a ver que o próprio País já não é o mesmo. Dominado pela Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter), o mundo das maravilhas foi destruído e vive sob medo e as ordens constantes de “Off with their heads” (corte a cabeça dele). Fica muito claro o maniqueísmo, personificações de bem e mal bem distintas por comportamentos, ambientes, cores e diálogos. Bem e mal estão assim: Rainha Branca (Anne Hathaway) e Rainha Vermelha.
Nessa aventura, o Chapeleiro Louco (Johnny Depp) tem papel fundamental. É ele o guia de Alice. A primeira pessoa em quem a garota confia e se importa naquela terra. O Chapeleiro de Depp é meio deprê, melancólico e encantador. Impossível não se apaixonar e desejar do fundo do coração que a alegria dos dias da Rainha Branca voltem a iluminar aquele ser. Depp, alter ego de Burton, como sempre primoroso. Não vou prolongar definindo todos os personagens, mas adianto que quando lembro do sorriso perpétuo de Risonho (o gato), já começo a rir também.
Alice... a menininha cresceu. Não tem cinco mas 19 anos. Continua impetuosa mas agora já não faz sem pensar. Diferente de anos atrás, quando não hesitaria em fazer qualquer coisa para ajudar o povo daquele lugar, agora pesa, julga, analisa antes de fazer as coisas. Já não aceita ordens sem saber as razões e sai do buraco ainda mais diferente. Aquela inocência do livro deu lugar à um senso de responsabilidade. Mesmo assim, o espírito livre da infância ainda é latente anos depois. Confesso que não sou PhD em Lewis Carroll, não tenho bagagem para analisar ou julgar a adaptação. Mas posso dizer que, quem espera ver fidelidade total à obra vai se decepcionar. Como disse, a história de Alice é o ponto inicial, a partir daí uma outra história é contada.
Há muito conflito moral na história, é uma fábula para adultos. A Rainha Vermelha coloca em cheque se é melhor ser amada ou temida. Sua irmã, a Branca, as vezes passa a impressão de não suportar ter que ser tão delicada como precisa. Alice não admite ter que matar uma criatura, mesmo sabendo que ela é perversa e cruel, para devolver a paz ao País das Maravilhas. Como já mencionei, é o País de Tim Burton.
Ele sim, pode entender e traduzir em imagens a loucura de Carroll, quando imaginou e escreveu sobre esse mundo totalmente novo e curioso. Acho que essa viagem de Alice pode ser comparada à viagem do crescimento mesmo. Tanta coisa nova e estranha pra conhecer e aprender. É como se Alice representasse as crianças e o País das Maravilhas a vida mesmo, com suas regras, curiosidades, perigos, lições e encantamentos. Se você viajar um pouco, pode ver pai e mãe na figura da Lagarta, que a gente sempre consulta e confia nos conselhos. Aquele amigo mala que só aparece quando quer mas com quem a gente pode contar sempre, e assim por diante.
Um longa pra digerir por dias a fio, muita informação compactadas em pouco tempo. Verei novamente com certeza e, se você não tem planos para o fim de semana, aconselho uma chegadinha ao cinema mais próximo para conferir a produção, que entra no circuito nacional na sexta 23.
É isso, ou me empolgo mais ainda e não paro de escrever nunca mais.
Me contem depois.
Beijos