Cara... na toada e que estamos, você já parou para pensar
como serão os relacionamentos daqui para frente? O Spike Jonze já! E é desse
cara que a gente vai falar :)
Os que me cercam sabem que eu simplesmente caí de amores
pelo filme ELA
(Her, EUA, 2013), que concorreu ao careca no ano passado. Eu fiz questão de
falar tanto desse filme que a turma até enjoou um pouco. Mas enfim, a temática
principal desta lindeza dirigida por Spike Jonze era uma visão de como seria o
relacionamento no futuro. Que já não é mais tão futuro assim, algumas coisas já
dão indícios de início imediato.
Eu não sabia, mas, antes de ELA, nosso digníssimo diretor
produziu um curta em parceria com a Absolut (sim, ela mesma) também sobre essa
temática. E vos digo caros colegas: uma delicadeza sem tamanho. São 30 minutos
de poesia e indagações pertinentes.
Em um tempo que não sei dizer se próximo, distante ou logo
ali, Sheldon (Andrew Garfield) é um robô bibliotecário pacato, que vive em uma
sociedade onde humanos e robôs convivem, mas, aos robôs estão destinados os
trabalhos “menos nobres” desprezados
pelos homens. A vida segue boa para Sheldon, ele aceita essa situação e vai
tocando o barco solitário, recluso e conformado. Este é o cenário de I´m Here
(EUA, 2010).
Tudo vai bem até que ele conhece Francesca (Sienna Guillory),
uma robô altiva, espevitada e cheia de amor pela vida. Pronto, nem preciso
dizer que rolou o amor e a vida do moço virou de pernas para o ar, mas no bom
sentido. O que faltava de vivacidade em Sheldon sobrava em Francesca e, logo, a
atração e a maneira como se completavam foi incontrolável.
É legal reparar em alguns pontos que o curta toca. A
realidade de Sheldon é monocromática, sem vida, sem decoração. Sua casa, branca,
sem móveis, apenas um carregador de baterias que usa para recobrar as energias
todas as noites. Já o ambiente de Francesca é barulhento, cheio de gente,
musical, agitado. E os dois vivem na mesma sociedade e são alvo dos mesmos
preconceitos.
Jonze traz por meio dos robôs seu olhar sobre temas como
exclusão, aceitação e relacionamentos (óbvio).
A história deles de certa forma critica a “automatização” dos
relacionamentos de hoje, a frieza que impera e a rapidez das dissoluções entre
a gente. Tudo ao alcance de um clique. Viu, não respondeu, está fora. É assim
agora. E não estou falando apenas de relacionamento amoroso tá.
O relacionamento não convencional dos dois, desperta inveja
e revolta em alguns humanos. E a grande
questão é: até que ponto a gente é capaz e deve se doar em prol do outro? Ou
até que ponto o outro tem direito de nos pedir esta doação? Ou ainda, o ato de
doar-se vem imbuído do quê?
Acho que uma discussão bacana, e de certa forma uma crítica
também, é de como perdemos a noção do limite quando nos apaixonamos. E será que
isso acontece pela paixão simplesmente ou essa ânsia de agradar e bastar ao
outro esconde uma insegurança latente em nós? Talvez Bauman soubesse responder....
eu não sei. Mesmo.
Quando eu digo que o curta é de uma delicadeza emocionante,
é por ela ser sentida na fotografia, cenário, trilha, roteiro.... todo o
ambiente do filme conta a história e espelha a nossa sociedade também.
A verdade é que não existe fórmula né. Quando acontece não
tem como escapar. Mas por vezes é bom refletir sobre como “perdemos” a mão pra
dar lugar ao outro. Talvez os gestos de Sheldon tenham mesmo sido altruístas e
genuínos. Mas vocês devem saber de casos em que essa doação é mais uma forma de
acorrentar o outro.
Spike Jonze realmente sabe como poucos discutir as relações humanas. É mais uma obra que ajuda a gente a reavaliar algumas coisas
e lembrar-se do que, e principalmente de quem, é importante. Há coisas que
definitivamente não foram criadas para serem automatizadas.
Neste ponto eu concordo com o Spike. E você?
beijo!
beijo!